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A Divisão do Estado de Mato Grosso e a Fundação do Grande Oriente do Brasil-MS (GOB-MS): Uma Análise Histórica

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Na década de 1970 e anos anteriores, o estado de Mato Grosso passava por acirradas disputas políticas, em grande parte decorrentes das desigualdades sociais, culturais e econômicas nos diferentes rincões de seu vasto território. Face à centralização política e econômica na capital Cuiabá, a região sul do estado sentia-se marginalizada, fenômeno que se prolongava desde o final do século anterior. Com tal passado, as forças políticas instaladas no sul do estado, ao longo do tempo seguinte, periodicamente se mobilizavam almejando a sua autonomia administrativa. Tal anseio foi materializado pela criação do estado de Mato Grosso do Sul, em 11 de outubro de 1977, através da Lei Complementar nº 31.

O Grande Oriente do Brasil – Mato Grosso do Sul (GOB-MS) é uma Instituição (potência) maçônica que possui vínculos estreitos com a história do estado. A relação entre a divisão de Mato Grosso e a fundação do GOB-MS é produto dessa aproximação e pode ser analisada sob ângulos diversos.

A Maçonaria, direta ou indiretamente, esteve presente em quase todos momentos políticos relevantes da história do estado. A compreensão desse envolvimento permite compreender a sua influência em diversos aspectos da vida social, política e cultural deste espaço geográfico e político. Presente em Mato Grosso uno desde o século XIX, essa instituição desempenhou um papel importante na evolução histórica da região.  Os maçons, com seus valores de liberdade, igualdade e fraternidade, frequentemente se envolviam em causas sociais, filantrópicas e políticas. A participação das Lojas maçônicas (agrupamentos de maçons) na reconstrução social do sul do estado após o término da Guerra do Paraguai foi fundamental para atenuar o quadro social catastrófico daí resultante. Tanto assim o foi que as Lojas fundadas nesse período, nos municípios impactados pela Guerra, em geral, incluíam em suas auto-titulações a palavra “Caridade”. No sul de Mato Grosso, a Maçonaria contribuiu para a formação de lideranças políticas, para a promoção de debates sobre temas relevantes e a defesa de causas socialmente justas, como o abolicionismo, por exemplo.

Durante o século XIX, o fenômeno da industrialização e urbanização na geografia europeia e americana mudou o espaço prioritário das vivências, deslocando-o do campo para as cidades. As mesmas se transformaram ao longo desse século em cenários férteis para o pensamento racional e científico. Nesse novo contexto, as Lojas maçônicas se multiplicaram pela Europa e por países do Novo Mundo americano, difundindo formas de literaturas até então não convencionais ou não tradicionais, abordando um leque diverso de temas além de questões filosóficas e científicas.

A partir de então, com o advento da chamada “Modernidade” e considerando-se a sobreposição e contradições de interesses despertados com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, esses episódios trouxeram para a colônia luso-brasileira a polarização cultural e geopolítica entre a Inglaterra tradicionalista e a França revolucionária.

Os primórdios da Maçonaria no Brasil refletiram essa relação antagônica, propondo ideologicamente um projeto político para um novo modelo de país: por um lado havia a proposta em vigor de Reino Unido Portugal-Brasil, aristocrático e absolutista que preservaria as estruturas coloniais na sociedade, por outro, o projeto de um estado/nação independente, constitucional e talvez republicano, inspirado nos moldes da República Francesa ou do federalismo constitucional dos EUA. Nesse momento, o modelo de pensamento político da Maçonaria francesa se sobrepôs nas fileiras maçônicas das nascentes Lojas brasileiras. Ainda sob o manto metropolitano português, em junho de 1822, algumas Lojas simbólicas instaladas no Rio de Janeiro, se uniram e fundaram o Grande Oriente Brasílico, o qual, alguns meses depois, foi renomeado como Grande Oriente do Brasil (GOB), adotando como modelo o formato do Grande Oriente de França.

Na Província de Mato Grosso, criada após a Independência em 1822, durante todo o Primeiro Reinado, as tensões e conturbações políticas e ideológicas provocadas por setores da sociedade cuiabana resistentes ao processo de independência, inviabilizaram a fundação de Lojas maçônicas na área abrangida pela então província imperial. Todavia, após a abdicação de D. Pedro I, em 1831, novas articulações sociais e políticas propiciaram as condições favoráveis para a fundação da primeira Loja maçônica em Cuiabá, na Província de Mato Grosso. Essa Loja denominava-se, Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Razão”, a qual foi registrada no GOB com o número 4, portanto, por esse número de registro, subentende-se que essa foi uma das mais antigas Lojas maçônicas do Brasil, fundada em 1834.

A Fundação do Grande Oriente do Brasil – Mato Grosso do Sul (GOB-MS)

Embora a divisão estadual tenha ocorrido em 1977, a presença da Maçonaria gobiana no território do novo estado remonta ao século XIX. As primeiras Lojas maçônicas na área do futuro estado, Mato Grosso do Sul, foram fundadas nas últimas décadas do século XIX, nas cidades de Corumbá, Ladário e Nioaque, ainda no contexto do estado unido, logo após o final da Guerra do Paraguai. Nas três primeiras décadas do século XX, outras Lojas associadas à estrutura federativa do GOB foram fundadas em Miranda, Bela Vista, Aquidauana, Ponta Porã, Porto Murtinho, Paranaíba, Campo Grande e Três Lagoas.

A Maçonaria, como uma instituição que se organiza em bases territoriais, acompanhou as transformações políticas e administrativas da região sul de Mato Grosso e foi influente nos rumos dos acontecimentos políticos e sociais anteriores e posteriores a 1977.

No ano de 2021 comemorou-se o primeiro centenário da presença da Maçonaria simbólica em Campo Grande, período representado pela história da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Oriente Maracaju, a qual, na época de sua fundação em Campo Grande na Av. Calógeras, era filiada ao GOB. Neste ano (2024), no território de Mato Grosso do Sul, a presença da Maçonaria ultrapassa esse centenário e celebra 152 anos de existência institucional. Cronometramos esse período a partir do momento em que foi fundada em 1872, na cidade de Corumbá, a Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Caridade e Silêncio”, filiada ao GOB. Após a divisão do estado, novas Lojas filiadas ao GOB-MS foram implantadas em quase todos os municípios do novo estado.

A divisão do estado de Mato Grosso e a fundação do GOB-MS são eventos históricos interligados que ajudaram a moldar a identidade e o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul. Atualmente, a Maçonaria, como uma instituição presente na sociedade sul-mato-grossense, subdivide-se em potências – o GOB-MS, a Grande Loja Maçônica de Mato Grosso do Sul e o Grande Oriente de Mato Grosso do Sul – as quais são instituições maçônicas autônomas, mutuamente reconhecidas, todas regulares e reconhecidas internacionalmente pela Maçonaria mundial.  Essas potências desempenharam, em conjunto, um papel importante nesse processo da divisão territorial de Mato Grosso, atuando como um agente de transformação social e política.

Com a divisão do estado a Maçonaria sul-mato-grossense expandiu. Ganhou maior representatividade e autonomia e se estabeleceu como uma força representativa no cenário maçônico brasileiro. A relação entre esses dois acontecimentos é complexa e comporta focos de análises diversos, demandando uma análise historiográfica criteriosa para compreender as suas interconexões e seus respectivos efeitos.

Alguns estudos argumentam que a Maçonaria atuou como uma das alavancas do processo de divisão do estado, mobilizando a sociedade civil e oferecendo apoio político aos líderes que defendiam a criação de um novo estado. Outra perspectiva sugere que a maçonaria foi utilizada por grupos políticos locais como um instrumento para alcançar seus objetivos, inclusive a própria divisão do estado. A Maçonaria, com sua rede de contatos e sua influência social, poderia ser sido utilizada para mobilizar militâncias políticas divisionistas.

Verdade é que muitos maçons participaram ativamente dos movimentos em defesa da divisão do estado, ocupando cargos de liderança em partidos políticos e organizações sociais.  As Lojas maçônicas, em certas ocasiões, em diferentes momentos do passado, foram utilizadas como locais de reunião para discutir estratégias e mobilizar a sociedade civil em favor da divisão do estado, bem como, por meio de alguns de seus membros, influenciou, posteriormente, na elaboração da Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul, defendendo, entre outros temas, princípios como a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

O GOB-MS é uma instituição civil influente, sólida e atuante em todo o estado de Mato Grosso do Sul. Com um passado honroso e uma história rica em envolvimentos sociais é ainda portadora da missão de difundir os valores da fraternidade, da solidariedade e do progresso social e do multiculturalismo que caracteriza a população sul-mato-grossense. Compreender a história do GOB-MS é fundamental para entender a trajetória da Maçonaria em Mato Grosso do Sul e sua importância política para a construção de uma sociedade democrática, solidária, pacífica e tolerante das diversas facetas de seu perfil cultural.

Dr. Gilson Rodolfo Martins
Arqueólogo e historiador
Secretário de Educação e Cultura do GOB-MS

 

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